17.4.10

Desperdícios

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."
ANDRADE, Carlos Drummond de


Esquecemos do tempo que passa, aflito. Ele não olha pra trás, não precisa. Nós sempre olhamos, não deveríamos.

Quando temos as chances escassas, poucas mesmo acontecendo em frequência, as desperdiçamos, mas não sabe o quanto isso é caro.

Ele tenta explicar o valioso, mas não existe solidez nas palavras. Está fadado ao vento produzido pelo tempo.

Ela reclama do tempo em vão, quando deveria se orgulhar do tempo em mãos.

Ele sabe que só o ouvirão quando puderem tocar, mas prova da mesma ironia que usa: ele é o manipulado e o tempo seu manipulador.

Os dois nunca saberão quais frases e palavras ficaram perdidas no espaço que esvanesceu. Quais momentos únicos poderiam recordar. Quais sorrisos, risadas, cheiros, carinhos, sons. Tudo agora não passa de uma massa sólida e aterrorizante.

Sinto que este pobre coitado sonha muito em viver. E isso continua a custar, e como.

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