24.5.10

As sombras estáticas

“Quando começares tua viagem a Ítaca pede que o caminho seja largo, cheio de aventuras, cheio de experiências. (...) Mas não apresses nunca a viagem. Melhor que dure muitos anos”
CAVAFIS, Constantino


Enquanto a maioria de seus companheiros de luta gastavam seu dinheiro em novas e potenciais maneiras de estragar o fígado, ele decidia escrever num bloco de notas enquanto olhava para si.

Os 'paraísos artificiais' que o rondava eram diferentes daquele que imaginava. Um paraíso que flertava com o contato e a reflexão. Não decidiu fazer parte do romantismo, simplesmente era. Na verdade, achava que era o único remanescente dessa trupe que havia sido dizimada por um bando de frustrados. Culpava o pós-modernismo, mas não sabia se esse fardo seria justo para apenas uma palavra.

Vivia numa época de pensamentos fracos. De sombras estáticas. Esperava pelo dia em que todos parassem de pensar, e então a vida interior seria vazia, expressada em despretensiosos atos desiludidos. Uma era em que não haveria mais um homem capaz de vibrar, numa pulsação que contagiasse, que inspirasse, que transpirasse.

Tinha medo. Receio. Só não havia enlouquecido pois, num outro espaço, havia o brilho de alguma-coisa que confirmava sua hipótese esperançosa, a de que o que falava podia ser verdade. E enquanto esse brilho demandasse de seu calor para sobreviver, ele não enlouqueceria.

Enquanto todos os outros normais o desmotivavam, ele sabia que dificuldade é uma série de coisas opcionais, longe é um lugar que não existe e havendo vontade em suas mãos, estaria são. E salvo.

Um comentário: