30.5.10

A queda de um gigante

"Cuide de vossa graça, pois aqueles ali não são gigantes, mas moinhos de vento, e aquilo que pensais serem braços são as pás que, girando o vento, movem a mó."
DE CERVANTES, Miguel

Era muros, tijolos, concreto puro e intransponível. Dizia que nada o assustava, nada o fazia hesitar. "Problemas?!" - afirmava - "só falta de preparo, não há nada que possa te fazer sair do controle".

Lutava intensamente contra o tempo, traiçoeiro e perturbador no seu "tiquetaquear" incessante. Mas lutava só para não ser tachado como fracasso ambulante, carregador de cruzes. Era orgulhoso, e como era. Não fugia de lutas, de socos, de dores, pelo contrário, contava cada cicatriz do corpo e esperava ouvir delas alguma história que pudesse se vangloriar, erguer o peito e então seguir em frente, com a sensação de dever cumprido.

Negava ser clichê. "Basta enxergar de outra maneira".

Porém houve a derrota, daquelas de dentro para fora. Enganado pelos próprios sentimentos, gritava motim. Sua cabeça já não aguentava processar tanta vergonha. Era a queda de um gigante, impávido colosso.

Sempre tentava fugir dessa falha, mais uma falha. Ajoelhou-se frente aos seus regimentos, e permitiu ser careta, metafórico, lembrar dela através de uma canção. Era avassalador. Sentiu-se sem o poder necessário para reverter a situação, pois havia sido construído às escuras de seu coração, a maior fogueira do mundo, e ele que achava que só água ou vento resolveriam, ficou sem opções. Permitiu, novamente, ser careta, metafórico, lembrar dela através de uma canção.

Paixão é uma coisa que acontece.

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